"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor."

Amyr Klink

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

MENDOZA, CORDILHEIRA DOS ANDES, DEZEMBRO DE 2013, 6º DIA

6º dia, segunda feira, 09 Dez 13


   Dia de deixar o conforto do Ibis de Mendoza, e tomar o caminho da alta montanha novamente ! A bagagem foi toda arrumada na noite anterior, então após o café da manhã fiz o check-out no Ibis e parti rapidamente para a estrada.

   Plano do dia: a partir de Mendoza percorrer o caminho conhecido como “Caracoles de Villavivencio” até Uspallata, numa distância total de 112 km, chegando lá pelo meio da tarde, para ter tempo de explorar a região do vale de Uspallata, e passar a noite por lá.

   Após cruzar a região central de Mendoza e sair da cidade na direção norte, o trajeto segue uma reta sem fim pela estrada RP52, cruzando uma região praticamente deserta. 


  Ao se aproximar das montanhas o caminho toma a direção oeste e começa a subir lentamente, ainda por estrada de asfalto, em direção à Reserva Natural de Villavivencio.



   Após rodar em torno de 50 km cruzamos pelo Hotel Termas de Villavivencio. Construído na década de 40 em estilo arquitetônico bávaro que lembra os hotéis da região serrana gaucha, o hotel é uma bonita atração no caminho. Vale uma rápida visita e algumas fotos. Infelizmente como não estamos na estação de férias e é uma segunda feira, o hotel está fechado e apenas fiz uma rápida caminhada pela sua parte externa.



    Após a entrada do hotel, a estrada passa a ser de rípio e aventura começa de verdade. Temos pela frente o trecho conhecido por “Caracoles de Villavivencio”, 52 km até Uspallata, por uma estradinha estreita e sinuosa, onde como bem avisa a placa de sinalização, é necessário prudência ao dirigir.

Daqui para frente, ripio até Uspallata !

A placa relembra: "sea prudente, conduzca con precaucion"

   A estrada não é excessivamente esburacada nem difícil de guiar, basta cuidado e andar em velocidade adequada para que qualquer veiculo mesmo de passeio possa fazer o caminho com segurança.

   O trecho de subida é incrível, a estradinha segue sempre serpenteando por entre as montanhas, cruzando uma grande área de preservação ambiental chamada ‘Reserva Natural de Villavivencio’. Não há casas, povoados ou habitações durante todo o caminho, nenhum sinal de civilização. A sensação de isolamento na montanha é incrível.


   No meio da subida uma surpresa: um guanaco desceu a encosta da montanha poucos metros à frente do carro, correu um pouco, depois parou pelo tempo suficiente para que eu saltasse do carro com a câmera em mãos e pudesse registrar tudo. Depois seguiu sua caminhada encosta abaixo sumindo em meio aos arbustos.

Guanaco "curioso"

    Mais alguns quilômetros subindo e chegamos ao lugar conhecido como “El Mirador”, ou mirante, de onde se tem uma vista completa dos “Caracoles de Villavivencio” que acabamos de deixar para trás. Estamos a uma altitude em torno de 2.800 msnm.

Chegando ao mirante dos Caracoles de Villavivencio


   A imagem faz a Serra do Rio do Rastro em Santa Catarina, conhecida por suas inúmeras curvas, parecer brincadeira de criança.

Fantástica vista do mirante dos Caracoles de Villavivencio, de onde se vê o vale e a estradinha sinuosa que acabamos de deixar para trás

    Após o mirante as subidas se tornam menos íngremes e a paisagem vai aos poucos mudando. Estamos cruzando a “Quebrada del Toro”, lugar onde as montanhas escarpadas dão lugar a “campos de altitude” formando uma espécie de platô no alto das montanhas.


Caminhando pelos campos da "Quebrada del Toro"

   Aproveitei os campos de Quebrada del Toro para descansar, dar uma caminhada e curtir o clima da alta montanha. Foi necessário vestir um agasalho para me abrigar do vento intenso e frio.

   De volta à estrada, segui em frente até o local conhecido como Cruz de Paramillo, onde também existe um mirante de onde se pode avistar do Aconcágua. 


   Cruz de Paramillo fica a 30 km do destino final que é a vila de Uspallata.


    Localizada um uma região de campos no alto das montanhas, onde o vento sopra muito forte e gelado, Cruz de Paramillo é um ponto imperdível deste caminho pela RP52, um lugar de beleza, silêncio e paz indescritíveis.



Lá atrás, em meio às pesadas nuvens, a cadeia de montanhas da Reserva de Villavivencio que acabamos de cruzar

    Após Cruz de Paramillo o caminho começa a descida em direção ao vale de Uspallata, que está a uma altitude média de 1.800 msnm. À medida que nos aproximamos do destino final, a paisagem vai mudando, se tornando cada vez mais árida, lembrando um deserto repleto de montanhas multicoloridas.

Cruzando o deserto do Vale de Uspallata

    O azul do céu e o contraste com as cores das montanhas geram imagens impressionantes de rara beleza. Esta beleza impar já serviu de ‘set’ de filmagens para filmes como ‘Sete Anos no Tibet’, parcialmente rodado em locações no vale de Uspallata - http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2012/12/brad-pitt-e-endeusado-em-cidade-onde-rodou-filme-na-argentina.html

Montanhas multicoloridas contrastando com o céu

Estradinha seguindo em direção a Uspallata

    Uspallata é um pequena cidade à beira da estrada RN7. Como é o ultimo povoado no lado argentino antes da fronteira com o Chile, abriga diversos quartéis e destacamentos militares de fronteira, que aparentemente são o “motor” da economia do pequeno povoado, além do turismo que parece ser bem desenvolvido e explorado em função da beleza própria da região e da proximidade com a parte alta dos Andes.

Na chegada a Uspallata, muitas arvores trazendo algum conforto e sombra aos moradores do vilarejo

    Ao chegar a Uspallata, fui diretamente ao hotel Portico del Valle onde havia feito reserva, ao valor de 300 pesos/ dia. O hotel é bastante simples, o quarto meio improvisado, nas fotos parecia ser bem melhor, mas ok, por uma noite está de bom tamanho.

   Rapidamente descarreguei as mochilas do carro e tratei de achar um restaurante aberto para fazer um lanche já quase no meio da tarde. Pedi um sanduiche de “jamón crudo”, que é muito parecido ao que conhecemos aqui em terras gaúchas por “copa”, ao custo de 50 pesos, cerveja incluída.

Almoço à beira da RN-7

   O sanduiche veio em tamanho XGG, servia tranquilamente duas pessoas, de toda forma a minha fome era grande também e o sanduiche delicioso, assim não foi nenhum sacrifício devorá-lo inteiro.

   Aproveitando que a luz do dia se estende até por volta das 21:00 h por estas bandas, coloquei meu companheiro Gol na estrada novamente para encarar 9 km de ripio pela completamente deserta RP13 até o ‘Cerro 7 Colores’.

Mais ripio na RP-13 entre Uspallata e o Cerro 7 Colores


    Cerro 7 Colores é uma montanha de uma beleza impar e cores incríveis, localizada no vale de Uspallata em meio ao nada. Não consegui identificar as tais “sete cores”, mas o fato é que a paisagem desértica da região é impressionante.




   Apesar do forte calor mesmo sendo final de tarde, deixei o carro para trás e aproveitei para caminhar buscando melhores pontos de vista das montanhas coloridas ao redor. No alto de uma pequena montanha exatamente em frente ao Cerro Sete Colores, sentei e deixei o tempo passar, curtindo uma sensação de isolamento e paz completos.


Montanhas multi-coloridas na região do Cerro 7 Colores

   Reflexões feitas, muitas fotos registradas, é hora de descer a montanha e pegar a estrada de volta a Uspallata. 

Cenários impressionantes no caminho de volta a Uspallata


   No caminho, pouco mais de 1 km antes da vila, fiz uma parada para conhecer a “Via Crucis de Uspallata”, uma sequência de cruzes em meio às montanhas que representam as estações da Via Crucis de Cristo.

Inicio da "Via Crucis"

   A caminhada é dura, a trilha estreita, as subidas são íngremes e a distância entre cada estação é bem razoável, de modo que consegui caminhar até a quarta estação apenas, registrei algumas fotos e dei por encerrada “minha Via Crucis”. Hora de retornar ao hotel para o merecido banho e descansar.

Estação na trilha da Via Crucis

A ultima estação fica lá no alto da montanha, haja fôlego e disposição para encarar a caminhada

    Após o anoitecer saí para jantar e caminhar um pouco pelas desertas ruas de Uspallata. O pequeno vilarejo “morre” após o anoitecer, quase todo comercio fecha as portas após as 21:00 h e poucos restaurantes permanecem abertos, ainda mais em plena segunda feira fora da época de férias. Mesmo assim encontrei uma agradável padaria chamada “Challet Suisse” onde servem deliciosas tortas, lanches, cafés e chocolates. Escolhi um lanche feito com pão tipo caseiro e adivinhe....”jamón crudo”, acompanhado de uma cerveja Andes. Era o que eu precisava para encerrar o dia, agora hotel e cama.

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