3º dia, sexta feira, 06 Dez 13
Dia de ALTA MONTANHA ! Hoje o
plano é seguir pela RN7 até a divisa com o Chile, visitar o Parque Provincial
Aconcagua, cruzar o Tunel Cristo Redentor, colocar os pés no Chile, e conhecer
o que mais houver de atrações neste caminho (e são muitas, o dia vai ser
pequeno).
O dia amanheceu perfeito, com um
céu completamente limpo e azul sobre a silhueta da Cordilheira dos Andes no
horizonte. Sem perder tempo, acordei cedo e
após um rápido mas reforçado café já estava na RN7 em direção às montanhas.
A caminho da Cordilheira
A paisagem no entorno da estrada
é simplesmente sensacional, paradas para fotos e admirar a paisagem são
constantes, por isso quem for planejar fazer esta viagem deve reservar bastante
tempo, para curtir cada curva, cada montanha. Este é um passeio para ser feito
sem pressa, mesmo.
Montanhas coloridas contrastando com o céu na região da pré cordilheira
Seguindo a RN7 em direção à
fronteira passamos pelo pequeno vilarejo de Uspallata, distante 130 km de
Mendoza. Segui direto, Uspallata e região merecem um dia inteiro de visita e
está na sequencia do roteiro de minha viagem.
Chegando a Uspallata, muitas árvores em meio a uma região semi-desértica
Após Uspallata a paisagem começa
a mudar um pouco, deixamos a aridez da Pré Cordilheira para trás e aos poucos
começamos a subir os Andes. Uspallata está a 2.000 msnm, já uns 500 m acima da
região de Mendoza, mas ao final da viagem na região de fronteira com o Chile
chegaremos a 3.000 msnm de altitude media. À medida que avançamos em direção à
região de fronteira, a temperatura vai caindo (mesmo assim faz muito calor) e o
vento sopra cada vez mais forte.
O visitante deve se
identificar no Centro de Visitantes, pagar uma pequena taxa (20 pesos), e então seguir de
carro até a área de estacionamento.
O Parque Aconcagua possui
diversas opções de trilhas, de acordo com o tempo e o nível de preparo físico
do visitante. As trilhas “comuns” e abertas a todos os visitantes são a Trilha
do Mirante, 1 hora de caminhada e 1,5 km de distancia, e a Trilha até Plaza
Confluencia, 4 horas de caminhada .
As outras opção são o trekking
até Plaza Francia, já a 4.200 msnm, mais 5 horas a partir de Confluencia, ou
Plaza de Mulas, este a 4.400 msnm, 10 horas de caminhada a partir de
Confluencia.
Plaza Francia e Plaza de Mulas
são caminhadas exigentes, e os pontos de chegada servem de “campos base” para
quem vai encarar a escalada até o pico do Aconcagua.
Como estou sozinho e não sou
alpinista, optei pela caminhada curta da Trilha do Mirante do Aconcagua. A
trilha é bem sinalizada, e a dificuldade é baixa. Existem duas surpresas
porém....uma, o vento absurdamente forte e gelado, que obriga o visitante a
vestir ao menos um agasalho leve ou moleton para se abrigar. A outra é o
cansaço e a dificuldade de caminhar, já aqui a partir dos 3.000 msnm. Sim, a
famosa sensação de cansaço ao fazer esforço físico já aparece aqui, a altitude
média. Fico pensando no que enfrentam os aventureiros que seguem até a Plaza de
Mulas J
Na trilha a caminho do mirante do Aconcagua
A trilha do Mirante, como o nome
faz supor, leva a um ponto de onde se tem uma espetacular visão da parede sul
do Monte Aconcagua, o “Sentinela de Pedra”, que com seus 6962 m é o ponto
culminante das Americas e montanha mais alta do mundo fora do Himalaia.
As primeiras visões do "Sentinela de Pedra"
Majestoso talvez seja o adjetivo
mais adequado para descrever o Aconcagua. Do mirante a visão que se tem é de
uma montanha imponente, com seu pico coberto de neve.
Não há como deixar de se
deslumbrar com a força e imponência do Sentinela de Pedra. Não há como
reproduzir através de fotos o que se vê ali. Na falta de palavras, a melhor
opção é sentar e deixar o tempo passar sem pressa, sentindo o frio do vento da montanha
mais alta das Americas enquanto admiramos a maravilha da obra da natureza. O
Aconcagua é uma daquelas visões que a gente tem de guardar num registro muito
especial na memória, em todos os detalhes, pois é algo muito especial e que não
será esquecido durante o restante da vida.
Face sul do Monte Aconcagua
Laguna de Horcones, na trilha de acesso ao mirante do Aconcagua
Espetáculo do Parque Aconcagua
encerrado, segui em frente pois ainda havia muita coisa a ser vista, e a manhã
já havia passado inteira. A fronteira com o Chile fica a pouco mais de 20 km da
portaria do parque, e em pouco tempo já estou cruzando o Tunel del Cristo
Redentor. São uns 3 km de túnel cruzando por dentro da montanha, levando do
outro lado ao Chile.
Chegando ao Tunel Cristo Redentor, fronteira Argentina x Chile
A aduana de entrada no Chile fica bem adiante da saída do
túnel, alguns quilômetros a frente, então dá para cruzar o túnel, “colocar os
pés em solo chileno”, ver e fotografar as montanhas do lado chileno e retornar
à Argentina numa boa.
Fila imensa de carros e ônibus na aduana chilena
Túneis entre as montanhas no lado chileno da cordilheira
De volta ao lado argentino,
aproveitei para almoçar na pequena Villa de las Cuevas, o ultimo ponto habitado
no lado argentino, quase na entrada do túnel de fronteira. Buffet simples de
comida caseira a 85 pesos.
Las Cuevas
A estrada até os 4.000 msnm é de
ripio, e durante os meses de inverno costuma ficar fechada devido ao acumulo de
neve. Questionei o simpatico atendente no restaurante em Las Cuevas sobre as
condições da estrada, e obtive a nada animadora resposta de que a estrada
estava fechada e que as maquinas ainda não haviam feito a limpeza e abertura da
estrada até o topo da montanha. Mesmo assim, decidi arriscar, o que se mostra
ser a decisão mais acertada que tomei em toda minha viagem.
O inicio da estrada de acesso ao
monumento do Cristo Redentor é marcada por uma espécie de “pórtico”, a 3000
msnm.
Poucos metros à frente o sinal de que o que vinha pela frente não era
brincadeira......erosões e valetas enormes na estradinha quase impediam o pobre
Golzinho de ir adiante, mas com calma e um pouco de técnica passamos o
obstaculo e seguimos em frente. Montanha acima a estrada vai piorando a cada
curva, era nítido que pouquíssimos carros haviam passado por ali nos últimos
dias, mesmo assim segui adiante escalando com todo cuidado a montanha com a
ajuda do valente Gol.
Ao alto, e avante !
Golzinho enfrentado o ripio dos Andes
Gelo !!!
Segui subindo a estradinha até
que aos 3.710 msnm, pouco menos de 3 km do topo da montanha, não teve jeito, a
estrada estava completamente bloqueada pelo acumulo de neve e gelo, em pleno
dezembro!
Simplesmente fantástico meu
primeiro contato com neve na vida, nem em sonho imaginei ter esta experiência
em pleno mês de dezembro, mas o fato é que ainda existia MUITA neve acumulada nas
partes altas da montanha e esse acumulo vai degelando e somente vai sumir de
vez durante os meses de verão.
Muito gelo !
Lá embaixo, bem distante, a pequena Villa Las Cuevas
Estrada de ripio no alto da montanha
Mas o dia ainda não havia acabado
e ainda havia algumas atrações muito especiais no caminho. A primeira delas fica na beira da estrada, a somente 3,5 km da portaria do Parque Aconcagua. Puente de Inca é uma interessante formação natural onde a
natureza esculpiu uma “ponte” de pedra sobre o curso de um pequeno riacho.
Junto à tal ponte estão as ruínas
de um hotel construído no século passado e do qual hoje restam somente as
paredes. O mais interessante de tudo é a cor fortemente amarelada das rochas
por onde passa a água do rio. Não sou especialista em química, mas a cor típica
de ferrugem deve indicar altos teores de oxido de ferro na água, ou seja
abundancia deste mineral nas rochas da montanha.
Junto à Puente del Inca há uma
infinidade de pequenas barraquinhas de artesanato, onde se pode “garimpar”
algumas lembrancinhas bem legais. Vale a pena perder um tempinho nas lojinhas e
gastar alguns pesos.
De volta à estrada em direção a
Mendoza, apenas 1,5 km adiante temos o “Cementerio de los Andinistas”, que
nada mais é do que um singelo cemitério onde estão sepultados alpinistas que
morreram em expedições e escaladas no Aconcagua e montanhas da região.
Atração
um pouco lúgubre mas interessante, nos faz pensar na fragilidade e tamanho da
vida humana quando confrontada à grandeza e força da natureza. Somos nada mais que
grãos de areia diante da força e imponência da natureza.
Por ultimo.........a estrada. A
RN7 no trecho entre Mendoza e a divisa com o Chile é um espetáculo por si só. É o tipo de estrada que todo
viajante deveria percorrer ao menos uma vez na vida.
Um dos muitos tuneis na RN7 entre Uspallata e a fronteira com Chile
Montanhas coloridas,
tuneis, a paisagem semi desértica, a ferrovia e suas pontes que seguem
paralelas à estrada, o rio Mendoza acompanhando a margem da estrada com suas
águas ora turbulentas, ora calmas e quase secas, tudo isso realçado pela luz
especial do final de tarde, fez com que a viagem de volta a Mendoza se
transformasse num sem fim de paisagens inesquecíveis que renderam dezenas de
ótimas fotos.
"On the Road"
Exausto, passei no Carrefour que
fica ao lado do hotel, comprei um lanche simples e uma garrafa de um bom Malbec
ao custo de 60 pesos e me refugiei no conforto do ar condicionado do hotel para
descansar, saboreando as fotos do dia e o excelente vinho. O dia valeu a pena !
Olá Arlei, muito bacana este teu Blog. Também sou um apaixonado por carros antigos e tenho o blog www.expedicaonaestrada.com onde relato minhas viagens com os carros antigos. Em Abril de 2014 estarei viajando até ao Uruguai com a minha Chevrolet C-1416 (Veraneio - 1965). Acesse o nosso Blog e acompanhe as nossas aventuras pelo Facebook e Twitter. Abraços
ResponderExcluirObrigado por compartilhar esse passeio. Literalmente "viajei" também lendo e olhando as fotos. Quem sabe um dia qualquer faço esse roteiro também. Valeu a dica, amigo.
ResponderExcluirObrigado Arlei pelas informações do teu blog! Me inspirei nele pra organizar parte da minha viagem. Infelizmente o mau tempo não ajudou muito, e tive que abortar o caminho de Villavicencio. Também escrevo um blog e espero que seja de valia pra alguém como este teu foi para mim. Valeu! joaoebone.blogspot.com
ResponderExcluirJoão, uma pena que não pode fazer Villavivencio, o caminho é bonito demais.
ExcluirQuanto a teu blog....a tempos sigo ele e acompanho tuas viagens ;-)
Abraços !