"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor."

Amyr Klink

quarta-feira, 26 de março de 2014

MENDOZA, CORDILHEIRA DOS ANDES, DEZEMBRO DE 2013, 8º E ULTIMO DIA

8º dia, quarta feira, 11 Dez 13


   Após seis dias perambulando aos pés dos Andes e curtindo suas paisagens incríveis, chegou a hora de voltar. Ultimo dia em Mendoza, expectativa a mil pela viagem de retorno, acordei cedo e após o café da manhã encerrei a conta do hotel e segui para o aeroporto El Plumerillo, localizado na saída norte da cidade, onde o pessoal da locadora me aguardava para a devolução do valente Gol.

   Trâmites de embarque feitos, em pouco tempo estava sobrevoando Mendoza em direção a Buenos Aires para a conexão, e então mais um trechinho de voo até a aproximação do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre, sobrevoando o velho conhecido rio Guaiba, mais uns instantes...........pronto, as rodas do avião tocam mais uma vez a pista do aeroporto, e estou em casa. Emoção gostosa aterrissar em Porto Alegre depois de ver tanta coisa em tão pouco tempo nestes últimos dias, que a semana mais parecia ter sido “um mês".

   Foram dias incríveis, uma viagem perfeita onde tudo deu certo. A despeito de ter cruzado regiões semi-desertas sem praticamente nenhum transito de outros veiculos e por estradas que fariam muito proprietário de “pseudo-SUVs” e “Ecos” da vida sentirem pena de seus veiculos, em nenhum momento me senti perdido ou inseguro. O “temido” ripio (estrada de cascalho solto) inspira cuidados na condução do carro, mas não traz maiores perigos se tratado com a devida cautela. Já as estradas regulares de asfalto são de modo geral excelentes, bem conservadas, sinalizadas e seguras, e com limites de velocidades “decentes”, ou seja 110 km/h em auto estrada, 90 km/h em estradas vicinais de pista simples.
   Rodei em torno de 1.500 km nos seis dias livres que passei em Mendoza, e sem duvida alugar um carro foi a escolha mais acertada, pela liberdade total de escolha de destinos e horários. O aluguel do Gol me custou R$ 650,00 pagos em reais à locadora, algo como $ 2.500 pesos argentinos. A gasolina (nafta super) estava custando 9 pesos o litro, algo como R$ 2,50 o litro no cambio a 3.5 reais/peso.

   A região da cordilheira dos Andes, a cidade de Mendoza e fronteira com Chile oferecem muito ao turista em termos de visuais, paisagens, estradas. É um destino fantástico que merece ser visitado com calma. Muita gente vem a Mendoza com roteiros “bate e volta” de dois a três dias, visitam uma ou duas vinícolas, o Parque Aconcagua e mais nada. Perdem MUITO do que existe de bonito e interessante na região....perdem a estrada, as paisagens, o contato com o povo. Para curtir de verdade Mendoza e região, uma estadia de cinco dias no mínimo é necessária.

   Também não é um destino caro. De modo geral alimentação e estadia em Mendoza tem valores bastante atrativos, principalmente se o cambio estiver favorável ao dólar / real. Quando estive lá, Dez/13, o cambio peso x real estava na casa de 3.5 a 3.8 pesos para cada real, com a desvalorização recente o cambio passa da casa dos 4 pesos por real, o que torna tudo ainda mais atraente em termos de custo. Vale MUITO a pena pagar tudo em espécie, evitar a todo custo uso do cartão de credito e fazer cambio no aeroporto, onde a taxa de conversão é a “oficial” e extremamente desvantajosa.

   Por fim, a imagem que fica, a lembrança maior da viagem, a visão do Aconcagua, sem qualquer duvida a maior atração turística da região e que sozinho já “paga” a viagem.
   O grande Amyr Klink, no livro "Paratii - Entre Dois Polos" escreve que “não poder dividir momentos especiais poderia ser um problema, mas há situações que se passam no mar que são para não serem divididas. Algumas tão belas e únicas que devem continuar dentro de quem as vê e só assim se transmitem: inteiras”.
   Pois não apenas no mar, na montanha também as palavras do navegador solitário fazem todo o sentido e a visão que guardo do Aconcagua é algo deste tipo, uma visão bela, única e inteiramente pessoal.


quinta-feira, 6 de março de 2014

MENDOZA, CORDILHEIRA DOS ANDES, DEZEMBRO DE 2013, 7º DIA

7º dia, terça feira, 10 Dez 13


   Ultimo dia aos pés dos Andes. Após um café da manhã bem simples na pousada, faço o check-out, coloco as malas no carro e estou pronto para pegar estrada novamente.

   Aproveito o tempo disponível para dar uma ultima caminhada pela rua central de Uspallata e visitar mais umas lojinhas de artesanato. Aqui cabe um comentário, as lojas de artesanato de Uspallata tem artigos interessantes e bonitos a bons preços, melhores do que os encontrados por exemplo nas lojinhas junto à Puente del Inca ou no centro de Mendoza.



    Deixei Uspallata para trás lá pelo meio da manhã, e resolvi percorrer mais uma vez a RN-7 em direção à fronteira com o Chile para visitar a estação de esqui de Los Penitentes - http://www.lospenitentes.com/ - , a 62 km adiante de Uspallata e já bem próximo ao Parque Aconcagua.


Apesar de ser baixa estação, o teleférico estava funcionando

   Obviamente como é verão não há neve e a estação está meio desativada e deserta, com os hotéis e restaurantes fechados. Mesmo assim existe algum movimento de turistas e vans de agencias, até porque o visual das montanhas, mesmo sem a neve, continua impressionante e valendo muito a pena de ser visto de perto.

Hotéis e pousadas fechadas na baixa estação, afinal é um centro de esqui

Refugio Cruz de Caña, albergue de montanha


Mesmo sem neve, a paisagem é impressionante no centro de esqui de Los Penitentes

   Após caminhar calmamente e fotografar tudo em Los Penitentes, iniciei o retorno a Mendoza curtindo pela ultima vez o visual encantador da RN-7.


Paisagens fantasticas à beira da RN-7 em direção ao Chile
 
   Como tinha a tarde toda pela frente ainda, resolvi voltar a Maipú e tentar fazer algumas visitas às bodegas da região.
   A região de Maipú é relativamente pequena geograficamente falando, o que significa dizer que as principais bodegas ficam próximas umas das outras e não se perde muito tempo rodando para visita-las. Muita gente inclusive faz o tour das vinícolas de Maipú de bicicleta, como o simpático casal de venezuelanos que viria a conhecer durante a visitação à Bodega La Rural.

   A primeira tentativa de visita foi a Bodega Trapiche, uma das maiores e mais conceituadas da região. O atendimento na recepção da bodega foi tão ruim, e o atendente tão pouco cortês e simpático, insistindo em deixar claro que a visitação era paga e que eu somente poderia acessar o pátio da bodega após pagar o valor do ingresso, que desisti “na hora” de fazer a visitação e me limitei a fotografar a fachada do bonito prédio da Trapiche do estacionamento mesmo.

Bodega Trapiche

   Decidi então tentar a visitação a Bodega La Rural, onde aconteceu exatamente o contrário. O atendimento e orientação ao visitante não poderiam ser melhores e mais atenciosos, desde o senhor da portaria da bodega às meninas que recepcionam e guiam os grupos durante a visitação.


    A Bodega La Rural é uma das mais antigas e tradicionais bodegas de Maipú. A visitação custa 50 pesos, dá direito ao tradicional “tour” pela bodega e vinhedos, explicação sobre o processo produtivo, degustação e o melhor de tudo, o valor do ingresso pode ser integralmente convertido em bônus na compra de garrafas de vinho – que são bem bons por sinal - na lojinha da bodega, assim a visitação acaba saindo “de graça”.

Vinhedos na bodega La Rural


   Nesta visita foi interessante perceber e poder comparar as diferenças no processo, no manuseio da uva, nos detalhes de equipamentos e prédios e até mesmo no tratamento visual em uma bodega dedicada a produção de vinhos mais comerciais, onde sempre existe uma preocupação com volumes de produção e índices de produtividade, em relação aos empreendimentos que vi no Vale do Uco, onde o foco na qualidade é absoluto, em detrimento de tudo o mais, preço final da garrafa de vinho inclusive.

Área produtiva da bodega La Rural, no primeiro plano as prensas utilizadas para extração do suco da uva

    Aqui na La Rural os processos são mais mecanizados, a vinícola tem mais aparência de fabrica e o vinho é o produto final. Nas bodegas do Vale do Uco, fortemente orientadas à produção de vinhos de altíssima qualidade, o processo de elaboração do vinho é tratado quase como uma arte.

Brasão da familia Rutini, fundadores em 1885 da Bodega La Rural de Maipú

    Outro diferencial da visitação à La Rural é o Museu do Vinho, anexo à bodega, onde podemos acompanhar a evolução dos processos de vinificação, desde o método primitivo introduzido na época da colonização pelos imigrantes espanhóis às evoluções e mecanização do processo ocorrido nos últimos 100 anos.


Museu do Vinho e antigos tratores utilizados nos vinhedos da La Rural

    Ao término da visitação à La Rural retornei a Mendoza para passar a última noite antes do retorno para casa.
   No caminho uma passadinha no Carrefour para comprar mais algumas garrafas de vinho para trazer de lembrança. Aqui vale a dica, os preços dos ótimos vinhos de Mendoza nos grandes supermercados são na maioria das vezes menores do que os praticados nas próprias bodegas, então vale a pena visitar, curtir as degustações, mas na hora de comprar vinho para trazer de lembrança, o negocio é investir nos mercados mesmo.

   Para esta última noite na cidade me hospedei novamente no Ibis. Nem desfiz as malas, apenas uma reorganizada na bagagem para despachar as malas e compras com segurança, afinal a pior coisa que poderia acontecer seria ter as preciosas garrafas de Malbec de Mendoza e as lembrancinhas dos artesanatos quebradas no transporte.

   Passei o resto da noite descansando e curtindo o ar condicionado do hotel, porque amanhã cedo é hora de deixar Mendoza, devolver o carro no aeroporto e seguir o rumo de casa.