O destino escolhido para passar o feriadão de 20 de Setembro
não poderia ter sido mais apropriado e a escolha mais feliz. Mais uma vez subimos
à cidade de Cambará do Sul, com o plano de visitar os principais cânions da
região, nos parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral.
Fomos presenteados com quatro dias simplesmente perfeitos,
com sol, céu claro, poucas nuvens, nenhuma neblina, temperatura amena, com
direito a friozinho à noite e muito vento no alto dos cânions, enfim....todos
os ingredientes para visitas produtivas aos cânions, com direito a belas fotos
e ótimas caminhadas.
No nosso primeiro dia nos Campos de Cima da Serra rumamos
diretamente ao PN de Aparados da Serra, para visitar o mais famoso e
frequentado cânion da região, o Itaimbezinho.
O cânion do Itaimbezinho já foi motivo de post aqui no blog,
quando da minha última visita à região, em Nov de 2011:
Partindo do centro da cidade de Cambara, a entrada o PN de
Aparados da Serra fica a 18 km percorridos em estrada de terra em boas
condições, com algumas pedras e buracos maiores, mas nada que assuste. O acesso ao interior do parque é
pago e custa R$ 6,00 por pessoa mais R$ 5,00 cobrados pelo estacionamento. O
visitante tem a sua disposição um Centro de Informações com guias, banheiros,
mapas etc. As trilhas no interior do parque estão bem demarcadas e limpas.
O visitante tem basicamente duas opções de trilhas a
percorrer no interior do parque, uma mais curta e próxima do Centro de Informações,
a Trilha do Vértice, que dura pouco mais de 30min de caminhada, e a Trilha do
Cotovelo, com 6 km de percurso de ida e volta e que leva à visão clássica do
Itaimbezinho, aquela que ilustra quase todas as imagens, reportagens e cartões
postais da região dos Aparados da Serra.
Minha sugestão é reservar bastante tempo para conhecer sem
pressa o cânion. Chegando ao parque próximo ao meio dia como fizemos, prepare-se
para deixar o cânion em torno das 17:00 h, que aliás é o horário de fechamento
do parque. Por isso, não deixe de levar água e um lanche leve para consumir
durante as caminhadas.
Optamos por encarar primeiro a
trilha que leva ao Cotovelo. Após uma agradável caminhada em meio à mata,
repentinamente a paisagem muda, a mata se transforma em campo e os penhascos
surgem imponentes. Os mirantes indicam os pontos de melhor vista do cânion. Impressionante o Itaimbezinho.
Paredes próximas, traz a exata dimensão de uma “fenda” aberta no chão,
diferente do Fortaleza e outros cânions onde as paredes das duas bordas estão
mais afastadas e a ideia de “fenda” não é tão evidente.
Do Cotovelo se tem a vista da
região de Praia Grande do lado catarinense. Lá no fundo, silenciosamente entre
as pedras o Rio do Boi segue seu curso levando as águas que despencam pelas
paredes dos cânions em direção às planícies da região litorânea.
De volta ao Centro de Visitação, seguimos pela curta trilha
do Vértice, que leva ao ponto onde “começa o Itaimbezinho”, ou seja o local
onde as duas bordas se unem e inicia a fenda que se transforma no imenso cânion
mais a frente. Seguindo adiante caminhando pela mesma trilha, percorremos um
trecho da borda oposta do Itaimbezinho que nos leva à vista completa da Cascata
das Andorinhas. Vale MUITO a pena, a imagem é fantástica.
Após percorrermos as duas trilhas da parte alta do PN de
Aparados da Serra retornamos à cidade, onde nos hospedamos na Pousada Por do
Sol, simples mas limpa e aconchegante, com ótimo chuveiro e calefação a gás e
um gostoso café da manhã...o que afinal é tudo que se precisa após um dia de
longas caminhadas.
O nosso jantar na primeira noite na cidade foi no
restaurante O Casarão. A casa serve um excelente buffet de pratos típicos da
cozinha italiana, com destaque para o maravilhoso tortéi, as costelinhas de
porco e o suco de uva BRANCA (isso mesmo, suco de uvas brancas, uma agradável
surpresa que tivemos e da qual fomos “obrigados” a levar umas garrafinhas para
casa de lembrança. A dica: vale MUITO a pena).
O ambiente é de primeira, com uma decoração muito original e
bem bolada, compondo um visual sofisticado e ao mesmo tempo rústico. Vale a
pena conhecer, fica a dica de uma excelente opção de jantar em Cambará.
O segundo dia amanheceu mais “cinzento”, com o céu
parcialmente coberto de nuvens. Após o café da manhã reforçado na pousada,
rumamos para o Parque Nacional da Serra Geral, para visitar o cânion da
Fortaleza.
São 23 km a partir do centro da cidade, por uma estrada
surpreendente e de belíssimas paisagens. Na saída da cidade encontramos asfalto
novo, muito bem sinalizado, com áreas cercadas para proteção dos animais,
e...acredite, redutores de velocidade e quebra-molas junto aos pontos de
travessia de animais.
Após uns 15 km o asfalto acaba e a velha e boa estrada de
acesso ao Fortaleza ressurge, trazendo de volta o “gostinho de aventura”, as muitas
pedras, os buracos, curvas, subidas, pontilhões de madeira etc. Diminui-se a
velocidade, e curte-se muito mais a paisagem. Prefiro assim...
Ao contrário do PN de Aparados da Serra, no Fortaleza não
existe portaria. Não tem Centro de Informações com banheiros nem mirantes de
madeira. Não se paga ingresso, não existem vias asfaltadas de acesso no
interior do parque, muito menos cercas e telas isolando a borda do cânion.
Aqui tudo é muito mais natural, menos modificado pela mão do
homem. Talvez por isso mesmo a sensação de liberdade e de distanciamento da
civilização sejam maiores. Se o
Itaimbezinho impressiona, o Fortaleza simplesmente deixa o visitante atônito
com sua grandiosidade. Esta foi minha quinta visita, e simplesmente é
impossível não ficar boquiaberto com a obra que a natureza construiu ali. A
cada nova visita o cânion se apresenta diferente, uma nova luz, a grama dos campos
mais verde, ora mais amarelada....o cânion surpreende, se renova, nunca se
mostra igual ao visitante.
Já na chegada ao Fortaleza as surpresas
agradáveis começaram. Fomos “recepcionados” por um desconfiado e arisco
graxaim, que se aproximava até certo ponto, curioso com o movimento, talvez
esperando algum “presente” para o lanche da manhã. A cada tentativa de
aproximação o bicho se afastava um pouco, para novamente parar e nos encarar
desconfiado, até que finalmente, sumiu campo afora.
Contentes com a recepção na chegada do
cânion, subimos a Trilha do Mirante, numa caminhada de uns 45min pela borda do
cânion até a parte mais alta, de onde temos uma visão completa e impressionante
do cânion. Impressionante também era o vento e o frio lá em cima.
Já com a tarde acabando deixamos o Fortaleza
e retornamos à pousada, curtindo sem pressa a beleza da paisagem dos campos que
margeiam a estrada que liga Cambará ao Fortaleza.
Na segunda noite de
nossa estada em Cambará o jantar foi na Pizza Retrô. O cardápio de pizzas é
fantástico, muito criativo e as pizzas melhores ainda.
Os sabores são variados, ficamos
com a pizza de salamito e tomates secos, que se mostrou uma excelente escolha.
Fica a dica para quem resolver visitar a Pizza Retrô: uma pizza grande serve
muito bem dois adultos, e se puder, não deixe de provar o sabor “pizza de
salamito” !
O ambiente da Pizza Retrô é extremamente criativo e original,
com destaque para os LP de vinil espalhados pelas paredes e mesas, sem contar
no som gostoso e suave da agulha do aparelho de som 3x1 tocando velhos LP dos
anos 70 e 80. Não pude deixar de sorrir ao perceber que na “minha” mesa, havia
um LP da banda Supertramp, “ao vivo”, um dos últimos LP lançados pela banda já
ao fim da sua carreira na segunda metade nos anos 80...banda esta que foi
(continua sendo) uma das minha preferidas daquele período. Impossível não
sentir saudade do tempo em que se ouvia musica do “lado A” e “lado B”.
Após uma noite fria, o terceiro dia na região amanheceu com
céu limpo, azul, temperatura amena, perfeito. O planejamento do dia era visitar
o cânion do Montenegro, situado no município de São José dos Ausentes.
Após o tradicional café reforçado na pousada pegamos a
estrada em direção a Ausentes. A partir de Cambará são 52 km de estrada de
terra e muitas pedras até Ausentes. O pequeno trecho de aproximadamente 10 km
entre Cambara e a vila de Osvaldo Kroeff está em fase de asfaltamento, e junto
à vila está o pior trecho da estrada devido às obras de asfaltamento. No
restante do trajeto, as muitas pedras e buracos ditam a velocidade da viagem, e
o ritmo segue lento, sem pressa, em comunhão com a paisagem única da região.
Aqui não é lugar para se ter pressa, definitivamente.
No caminho entre Cambará e Ausentes, junto ao posto do ICMS
na divisa entre RS e SC, fizemos um desvio de 7 km para visitar o mirante da
Serra da Rocinha, na estrada que faz a ligação da região com o lado catarinense.
No mirante, muito vento, muito frio e um visual incrível,
que compensa plenamente os 7 km de estrada de pedras.
De volta à RS-020 deixamos a sede
do município de Ausentes para trás e seguimos por mais 20 km até a vila de
Silveira. Neste trecho a estrada é bem melhor e permite desenvolver mais
velocidade. De Ausentes a Silveira levamos 30 minutos. Após Silveira seguimos
em direção à bonita e bem estruturada Pousada Fazenda Montenegro onde fica o
cânion de mesmo nome.
Entrando pela sede da pousada o
visitante segue por uns 3 km em uma estradinha bem agressiva e difícil para
quem está com carro de passeio, mas que se transforma numa ótima diversão para
quem está de 4x4, cruzando por várias porteiras, atravessando alguns córregos
para finalmente chegar próximo à borda do cânion.
Junto ao cânion Montenegro está localizado o Pico do Montenegro que é o ponto mais alto do estado do RS com 1403 m de altitude.
Como toda a região já está a uma altitude expressiva, o “pico” na verdade não
tem nada de muito impressionante, na prática é um “morrinho” mais elevado em
relação aos campos que circundam a borda do cânion. Na verdade todas as terras
no entorno do Montenegro estão a altitudes acima dos 1200 / 1300 m. Na foto, o "pico" do Montenegro é a porção mais elevada de terra lá no fundo.
A grande atração do Montenegro é seu isolamento. Aqui nós
temos a sensação de “um cânion particular”, sem outros visitantes. Engraçado
perceber que cada cânion que visitamos nestes três dias traz suas
particularidades, seu cenário próprio, diferente. Impossível tecer comparações entre
eles........difícil e arriscado escolher qual o mais impressionante. Tem de
conhecer e visitar todos !
Se o Itaimbezinho traz a ideia perfeita de fenda aberta no
solo com suas paredes próximas e cobertas de vegetação, o Fortaleza traz a
grandiosidade de suas paredes de dimensões descomunais. O Montenegro por sua
vez se mostra em sua borda composta de campos limpos que abruptamente terminam
em penhascos, além da sensação de silencio e total comunhão com a natureza. Sem
duvida, dentre os cânions abertos a visitação e facilmente visitáveis na região
dos Aparados, o Montenegro é o menos conhecido, menos visitado e mais “puro”,
onde a gente se sente mais longe da civilização.
Deixamos o carro junto à trilha de acesso à borda do
Montenegro e encaramos a caminhada pelos campos. Sem pressa, percorremos toda a
borda do cânion, atravessando os campos, alguns banhadinhos, explorando todos
os visuais possíveis do cânion.
Infelizmente faltou tempo para subir o “pico do
Montenegro”....esta ficou para a próxima visita. Como depois de muita caminhada
a tarde já começava a cair, era hora de encarar o longo caminho de volta a
Cambará, aproveitando a luz mágica e saturada do final de tarde para as últimas
fotos do dia.
Após um rápido banho e um breve descanso, saímos para o
jantar da nossa última noite na cidade, que não poderia ser em outro lugar que
não o tradicional Galpão Costaneira. Uma farta e muito gostosa “bóia campeira”
nos esperava, com direito a carreteiro de charque, feijão tropeiro, moranga,
paçoca de pinhão, linguiça com queijo frito, saladas etc...sem contar as
cachacinhas de entrada, preparadas nos mais variados sabores. Tudo isso num
ambiente de galpão, muito bacana, e para completar com a música de fundo do
simpático e lendário gaiteiro Agripino.
Na manhã seguinte, domingo, chega nosso dia de partir, de
deixar esta região tão bonita, impressionante e gostosa de se estar. Café
tomado, mochilas arrumadas e no carro, tudo acertado na pousada, deixamos
Cambará, não sem antes subir ao morro da torre da Embratel para uma
“panorâmica” da cidade, e finalmente uma última caminhada na praça central,
junto a igreja matriz, para então nos despedirmos de Cambará do Sul.
No caminho de volta, uma escala em São Chico para uma
caminhada e um chimarrão junto ao Lago São Bernardo, o almoço na tradicional
Trattoria Pasta Nostra, uma demorada visita à livraria Miragem que sempre rende um livro de lembrança garimpado entre as prateleiras e depois....estrada até em
casa.